sexta-feira, 12 de junho de 2009

Entrevista com a banda Violator




1 - VE-NE ( Velha escola - Nova escola ) - Violator ou como gostam de chamar-se Violas é formado por quem ?

Fala Jacaré! Muito obrigado pelo convite para essa entrevista. Você é um figura que eu admiro muito, que tem feito um blog animal e é um prazer fazer parte dessas páginas virtuais. Então, o violas é formado por mim, Poney, e pelo Capaça, Cambito e Batera. Dois zé-oreia do goiás, um do ceará e um do chile.

2- VE-NE - Vamos falar da cena brasileira de thrash metal de ontem e hoje : Nos anos 80 haviam muitos shows no underground e assim como no punk e hardcore haviam muitos shows de bairro e em periferias mas hoje esse cenário mudou e as grandes casas de shows estão abrindo suas portas para o nosso estilo musical que antes era considerado "marginal" , O que mudou na percepção de vocês de quando começaram a tocar para os dias de hoje?

Cara, acho que essa abertura de grandes casas, ou de lugares com mais estrutura acontece em lugares específicos em momentos específicos. Mas não é um movimento que percebo em um âmbito geral no Brasil não. Aqui em Brasília, continua a mesma merda de sempre, até pior, eu acho! (risos) Em São Paulo, a coisa parece estar mudando mesmo, o Dãr e o Cris estão conseguindo fazer shows underground muito bem sucedidos em espaços que não tinham muita abertura pra roqueiros feios como a gente, o que é muito legal. Mas aqui em Brasília a coisa tá bem ruim pra espaços de show. O Caga-Sangue Thrash, que era o evento mais legal que a gente realizava na cidade, responsável por provocar surtos de histeria roqueira coletiva no submundo de um dos locais mais podres da cidade, morreu pela falta de espaços. Desde que começamos a tocar, em 2002, já vimos vários momentos de abertura e fechamento de espaços para o thrash, o punk e o rock em geral.

3 - VE-NE - De uns 2 ou mesmo 3 anos para cá a cena crossover ( hardcore + metal ) aumentou muito inclusive com ótimas bandas brasileiras e no resto do mundo também trazendo mais pessoas do punk/hardcore para os shows mistos , isso de certa forma alavancou a cena metal brasileira ? Especificamente o Thrash metal?

Pô, com certeza! Na minha perspectiva, de quem vai sempre a shows e toca desde muito muleque, essa simbiose entre metal e punk melhorou muito uma série de fatores. Os shows hoje são bem mais animados, divertidos e tem um clima melhor. Lembro que quando fomos dar rolê a primeira vez em São Paulo com os caras do Blasthrash, veio gente chata intimar o juan porque ele tava com um patch do subtera, ou porque a gente usava camisa do Discarga. Acho que isso dificilmente aconteceria hoje em dia. Ainda tem muita gente com muito preconceito, dos dois lados. Na verdade, são raros os lugares no brasil em que a coisa não é estritamente separada. Em Brasília, nunca foi assim e a gente aprendeu muito com isso. Fico feliz que o Violator ajude um pouco a diminuir essas fronteiras por onde passamos. A cena de São Paulo mesmo já mudou muito desde que tocamos a primeira vez em sampa com o discarga em janeiro de 2005 ou alguns meses depois com o Bandanos (que ficou todo mundo parado e só o povo de Brasília agitando) Pra gente, underground nunca teve a ver com construir mais muros na sua vida, mas sim, acabar com eles.

4 - VE-NE - O violator fez recentemente turnes no japão e na europa , mas antes destas turnes vocês viajaram pela américa do sul quase em todos os países , qual a diferença no ponto de vista de membros de uma banda brasileira de thrash metal tocar em outros países ?

É engraçado, porque em todos os cantos que viajamos conhecemos muitas pessoas que são bem parecidas com a gente. Parece que o sentimento thrasheiro, que é também um sentimento de se sentir meio deslocado nessa sociedade, consegue ultrapassar as fronteiras, o que é muito legal. Ao mesmo tempo, uma coisa que me deixou muito pensativo a respeito da nossa passagem da Europa é que nossa visão de mundo e nossa história de vida e de cena são muito diferentes das pessoas de lá. Pode parecer clichê falar isso, mas as facilidades que eles possuem em um país de primeiro mundo são muito significativas pra maneira como você olha o mundo e inclusive, acredito, pra maneira como você toca. Isso vai desde ter equipamentos fodidos e facilidade pra viajar até nunca ter tido contato com uma realidade miserável em que você vai pegar um ônibus e vê uma porrada de muleque passando fome e cheirando cola. Essa nossa condição de subdesenvolvimento, que influi inclusive no fato de nunca termos a ilusão de que vamos viver de rock e por isso é preciso descolar um trampo no meio da semana, acredito que é uma marca forte do som que a gente faz por aqui. Acho que o jeito bronco e raivoso do thrash daqui, e do hardcore também, tem um pouco a ver com todas essa dificuldade e miséria.

5 - VE-NE - A cena Thrash Metal mundial no olhar do Violator como anda?

Lá fora as coisas estão muito maiores do que aqui. Acho que num futuro próximo muita banda que tá apostando todas as fichas nisso pode quebrar a cara feio, infelizmente. Parece que muitas pessoas só foram descobrir o thrash nos últimos dois anos e por isso ainda parecem muito encantadas com a parada. Eu não quero perder esse encantamento nunca, mas isso não me impede de ver que a empolgação com o thrash tem diminuído por aqui. Em Brasília, talvez o ápice do thrash tenha sido em 2006, não sei. Mas a gente não desanima não. Em 2002 éramos só nós 4 e a gente já era feliz o suficiente. (risos)

6 - VE-NE - O Sepultura como todos sabem até hoje é um expoente fortíssimo do thrash metal brasileiro e abriu muitas portas para quem vinha logo atrás como o próprio Korzus , por exemplo, hoje em dia depois da era internet e comunicação global as dificuldades que essas bandas passaram nos anos 80 continuam nos tempos atuais ?

Não me arrisco a dizer que passamos nem 10% das dificuldades que essas bandas pioneiras do thrash passaram. Acho muito admirável o que o Max e o Igor fizeram nos anos oitenta, ajudaram a criar uma rede mundial subterrânea de trocas de material e de informações muito antes da internet chegar comercialmente no país. Ainda existem dificuldades, é claro, mas eu posso dizer que me sinto bastante confortável. Porra, a gente já foi até pro Japão! Que mais eu posso querer dessa vida? (risos)

7 - VE-NE - Ainda rola preconceito com bandas de metal vindas de países pobres e de terceiro mundo como o Brasil?

Rola um preconceito, mas provavelmente não como você está imaginando. O que eu acho uma grande merda é que o fato de sermos do Brasil é sempre (ou quase sempre) um fator a ser citado como algo exótico, de estranheza. Isso também é preconceito. Porra, na descrição que a Earache fez da gente na compilação thrash dela eles citavam algo como "o Brasil não é famoso apenas por exportar café, mas também Thrash Metal, eba!". Porra, que visão mais tacanha e preconceituosa do Brasil, não é mesmo?

8 - VE-NE - O Violator particularmente no meu ponto de vista é muito humilde e toca aonde são chamados sem restrições de lugares ou estado , no Brasil há um lugar que vocês ainda não tocaram e que gostariam de tocar?

Obrigado pelas palavras, Jacaré. Muitas pessoas chamam a atenção para o que chamam de nossa "humildade". Porra, eu lamento muito é que a gente chame a atenção por isso, que sejamos uma exceção na cena. É uma merda esse sentimento de superioridade, ainda mais baseado em coisas banais como "eu viajei mais do que você" ou "eu toquei em mais lugares que você", tem que ser muito pau no cu pra querer tirar onda com umas besteiras dessas né? Bem, com relação a pergunta, eu gostaria de tocar e conhecer mais o Norte do Brasil. Até hoje só fomos ao Pará e Amazonas, sendo que nesse primeiro tocamos em um rolê incrivel, no interior, 20 horas de barco! Foi demais, Portel chama a cidade.

9 - VE-NE - A cena thrash metal hoje em dia está mais próxima da política seja ela mundial ou mesmo a nacional como no nosso caso o país em que vivemos?

Eu gostaria de pensar que sim, Jaca. Mas eu acho que é só porque eu me sinto próximo de debates políticos nacionais e locais, não significa que toda a cena thrash esteja mais afiada politicamente. Muitos thrashers não tão nem aí pra nada não, só querem ouvir Slayer e se divertir. Não tem nada de errado com isso, nada mesmo, eu adoro Slayer e adoro me divertir (risos), mas eu acharia legal se mais pessoas (thrasheiras ou não) estivessem mais interessadas em tentar fazer desse mundo que a gente vive um lugar mais bacana.

10 - VE-NE - Poney eu particularmente conheço a sua história dentro do ciclo-ativismo em brasília nas famosas bicicletadas e por ser vegano , a banda tem alguma relação com ativismos de qualquer natureza ?

Então, não posso dizer que é uma relação da banda com esses ativismos. Tem gente vegetariana na banda e que participa de diversas coisas, mas nunca como Violator, só como pessoa mesmo, entende? Da minha parte eu me interesso muito por ações políticas autônomas e que funcionem a margem do Estado. Então sempre que posso, participo de atividades, manifestações, eventos. Eu tenho um envolvimento bastante ativo com a bicicletada, que tem ficado cada vez mais divertida e contraventora aqui em Brasília.

11 - VE-NE - Da demo Killer Instinct Demo de 2002 ao Chemical Assault de 2006 se passaram 4 anos o que mudou na vida de vocês como seres humanos e como músicos ?

Putz, foi um vendaval de coisas nesses 4 anos. E nesses últimos três também, ainda mais. Já foram 14 países, uma tonelada de amizades sinceras, de bandas legais, de shows inesquecíveis. É até difícil fazer um comentário geralzão assim, mas só o que posso dizer é que eu sou eternamente grato ao que esses outros quatro Violas ( tem o Juan e tantas outras pessoas que sempre nos ajudaram) fizeram com a minha vida. Antes dos 20 anos eu já tinha viajado por quase todo o Brasil fazendo Thrash, isso é muito, muito fera. Esses caras são responsáveis por não transformar minha vida em uma coisa mesquinha e sem graça de "trabalho, produção e consumo" e me darem meios práticos de viver alguns dos meus sonhos.

12 - VE-NE - Bom vou ficando por aqui e gostaria de agradecer e muito a entrevista e como um fã do Violator que eu sou dizer o meu muito obrigado e desejar a banda toda sorte do mundo e deixar em branco o espaço para vocês dizerem o que quiserem , próximos shows , tours , planos para o futuro , bem enfim digam o que quiserem :

Muito obrigado a você Jacaré, muito legal ver tamanha dedicação e paixão em quem já tá tanto tempo na cena como você. Obrigado todo mundo que leu essa entrevista e que à sua maneira ajuda a dar continuidade a essa rede de contracultura subterrânea. Em agosto acho que a gente volta a São Paulo pra um show com Ratos, nos vemos lá? Valeu, UFT!

Contatos com a banda para quem quiser conhecer mais , trocar idéias, etc :

No Myspace : http://www.myspace.com/viothrash

Site : http://www.violatorthrash.com


Ao vivo :

Comentário : Obrigado Poney e Violator pela entrevista e desejo toda a sorte do mundo para a banda e para vocês , nos vemos no pit , abraços .

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