sexta-feira, 24 de julho de 2009

Entrevista com a banda : Nerds Attack !



Velha Escola Nova Escola ( VE—NE ) – O Nerds Attack é formado por quem ? E quais as influências da banda ?

Nerds Attack! é formado por Foca (Vocal), Fabiano (Guitarra), Barreto (Baixo) e Xopô (Bateria). As principais influências da banda são basicamente Scholastic Deth, Limp Wrist, L’amico di Martucci, Razors Edge, Jellyroll Rockheads e Discarga.

( VE—NE ) – O Nerds Attack é uma banda que está na cena brasileira desde 2006 e dela pra cá muitos shows , demos, participações em coletâneas e splits com bandas brasileiras e do exterior , visto que o Nerds Attack levanta a bandeira contra a homofobia muitas portas ainda se fecham para vocês por defenderem a luta contra homofobia ?

Nunca tivemos problemas em relação a isso, pelo contrário. A partir dessa postura anti-homofóbica declarada nas letras da banda acabamos conhecendo novas pessoas e nos entrosando com várias bandas do cenário hardcore/punk , com as quais podemos conversar, aprender/ensinar sobre sexualidade de uma maneira sadia, absorvedora e sem preconceitos. Aos poucos fomos atingindo também outros públicos fora da cena, o que por sinal sempre foi um objetivo, pois desta forma temos certeza de que a mensagem passada pela banda não é restritamente musical, queremos passar muito mais do que isso.

( VE—NE ) – Como é a receptividade da banda no exterior , cantando em português o que acho bastante louvável e com membros declaradamente gays ? Vocês já receberam ameaças via internet por exporem suas idéias abertamente ?

Então, no Myspace disponibilizamos nossas letras em inglês pra galera de fora também conhecer um pouco mais sobre nossa proposta; inclusive os splits com o Mammoth Torta (USA) e com o The Balls of Justice (Russia) nos foram apresentados a partir dessa oportunidade digital. Quanto às ameaças, já recebemos sim, tanto pela internet como verbalmente; a informação sempre vai gerar repercussões positivas e negativas pro Nerds, tanto como banda quanto como indivíduos, e não temos como anular a existência do preconceito como um todo em nossas vidas. Por outro lado, interpretando pelo lado critico da coisa, nós estamos realmente incomodando alguém; incomodamos pessoas de “bons costumes”, pois muitas delas não querem parar pra ver que isso é real. Homossexualidade não é a principio, uma escolha, não há como definir amor senão através do sentimento, e quando agente fala sobre sentimento não existe regra; todos somos sexuais e temos direito e dever de amar quem quisermos, a hora que quisermos e com a intensidade que desejarmos; a resposta à isso tudo não surge à toa, é pura ignorância fingir que nada disso faz sentido, pois não existem regras. Não somos mais moleques sendo xingados na escola. Quando você dá a cara pra bater, alguém vai querer te atingir, por se sentir ofendido ou até mesmo tocado sem saber que isso é combustível pra nossa máquina.

( VE—NE ) – Recentemente asssiti o filme Milk sobre o ativista gay norte americano Harvey Milk que foi assassinado no auge de sua luta , sua mensagem continua viva até hoje nas comunidades gays de todo mundo ? E como é o ativismo da banda em relação a cena brasileira visto que sem demagogias é ainda bem homofóbica e sexista , o que mudou durante estes anos de banda na visão da banda e o que pode mudar ainda mais para educar e conscientizar as pessoas ?

Milk é um excelente filme sobre a temática “gay militante”, embora sejam outros tempos, toda forma de manifestação, mensagens são importantes e sempre irão fazer referência. Aos que lutam contra o preconceito, Harvey’s Milk morre e o mundo jamais se calará perante isso. Casando as duas perguntas em uma única resposta, a melhor forma de se educar uma cena e as pessoas que fazem parte dela é através da fala. Se não podemos, nem devemos nos calar, precisamos ser claros naquilo que estamos passando, por isso falamos bastante nos shows sobre nossas músicas e suas respectivas temáticas. Com o tempo agente tem aprendido a fazer isso de uma maneira mais proveitosa, sabe? Agente se diverte nos shows e quer que o pessoal se divirta também. Assim diversão e informação andam de mãos dadas. Lógico que muita gente vira a cara pra isso tudo; a homofobia ta aí; a cena nada mais é do que uma reprodução em menor escala do “mundo real”. Cabe a nós moldar isso da melhor maneira possível.

( VE—NE ) – Nas letras da banda (Nerds Attack! ) a política se mistura contra a homofobia , sexismo e especismo e a libertação animal e humana , as bandas de hardcore e punk hoje em dia se preocupam mais assim como vocês contra esses pensamentos retrógrados e egoístas ?

Abordamos esses temas porque eles são importantes para nós. Isso é nossa referência, não queremos que se torne uma regra. Existem bandas, pessoas e coletivos com boas intenções produzindo mudanças, tanto individuais como através de trabalhos em conjunto, e existem bandas que se preocupam em chocar, simplesmente por chocar, sem propósito de mudança alguma. Queremos absorver o que as pessoas e as bandas estão tentando nos fornecer, independente disso ser visto pelo ponto de vista musical, temático, ou por ambos. Inclusive recentemente fizemos uma música chamada “uma banda, nenhum integrante” (a mesma sairá nos splits com Balls of Justice e Mammoth Torta) que fala a fundo sobre egoísmo. Hoje em dia a galera se preocupa em ter uma banda, não em tocar com seus amigos ou pessoas importantes na sua vida; tudo é substituível, se o cara ta lá, passando por problemas pessoais, ele é simplesmente trocado e ponto final, o motivo não interessa muito. O Nerds, em contrapartida, sempre deixou claro que o primeiro passo somos nós, nosso carinho e nossa convivência, o fruto disso é a música e a vontade de continuar batalhando.

( VE—NE ) – O que representa o faça você mesmo na sua vida ? Essa filosofia de vida é levada por vocês até mesmo na vida pessoal de cada um ?

Sim, o faça você mesmo com certeza é uma grande influência, absorvida de toda essa estrutura do hardcore e do punk. Aos poucos vamos moldando isso dentro do nosso dia a dia, mesmo essa não sendo uma tarefa tão fácil (acho que todos nos rendemos bastante, querendo ou não). Apesar de toda essa estrutura de vida ter sido cautelosamente desenvolvida para que, futuramente, ninguém precise levantar a bunda da cama nem pra fazer café, existem atividades no decorrer do dia a dia que aguçam nossa percepção, para que vejamos as coisas com olhos mais críticos. O vegetarianismo é um dos milhões de exemplos que poderiam ser citados; se você não fizer sua própria comida, nem sempre as proximidades do seu trabalho ou da sua faculdade vão te acolher, logo ali na esquina, com um restaurante especializado, com uma lanchonete vegan, então ta ai uma grande oportunidade pra se botar a mão na massa. Fora isso, gostamos bastante de materiais contra culturais como zines, e-books, blogs informativos, livros produzidos com produtos naturais e baixo custo, como por exemplo, os materiais da Crimethinc., que estão sempre tentando transmitir e repassar conhecimentos da melhor maneira possível.

( VE—NE ) – Atualmente os Nerds Attack são uma das mais atuantes bandas de hardcore/punk que existem no Brasil e admiro bastante a postura da banda por não escolherem lugares para tocar seja na periferia ou mesmo lugares mais abastados , dessa forma vocês acreditam que o punk está se tornando novamente mais “marginal” e voltando para as periferias e lugares mais carentes onde a informação da contra cultura as vezes não chega ?

Periferias e lugares mais carentes e bairros afastados de São Paulo são exatamente o foco onde a informação tem que chegar; gostamos de escapar da região central e proximidades do metrô, pois apesar da gente se foder e passar por longas viagens pra chegar nos lugares, agente sabe que ali existem pessoas contando com a sua presença, não por carência, mas por importância. Tocamos no Grajaú, Taboão da Serra, Vila Nova Cachoeirinha, Osasco, Jundiaí, Pirituba, em eventos comunitários, com grupos de hip-hop e capoeira de angola, em centros culturais para a comunidade local, e por ai vai. O punk pra nós é marginal, sexual, das ruas, ríspido, cru, filho da classe trabalhadora. Isso tudo surgiu no subúrbio e não queremos tirar um pingo de revolta dessas calçadas sujas de hipocrisia.

( VE—NE ) – Como é a cena brasileira na visão dos Nerds Attack nos dias de hoje e como era quando vocês começaram em 2006 a 3 anos atrás , muita coisa mudou ? Ou ainda precisa melhorar bastante?

Olha, sempre haverá mudanças. Se tudo se tornará melhor um dia, sinceramente agente não sabe. É algo relativo e pode ser avaliado constantemente. Com certeza, em relação ao Nerds Attack! em si, não temos do que reclamar. Com o passar do tempo várias oportunidades surgiram e, espero que com nosso esforço, elas se tornem constantes. Se tiver algo que está mudando pra melhor, aos poucos, mas precisa ter uma continuidade, é a circulação de informações. Os zines de hoje em dia são bons, porém escassos. A internet criou um vinculo de circulação que vezes mais parece uma gaiola; é como se a televisão tivesse sido trocada pelas comunidades mais badaladas do orkut . Cada vez menos temos nos limitado nesse sentido. Musicalmente? Também, mas principalmente em questão de proveito. Existem coisas mais importantes pra nos preocuparmos, a vida não está só nos shows, senão nada disso seria necessário.

( VE—NE ) – O Nerds Attack é uma banda que apóia muitas lutas humanas e a luta dos animais qual a postura da banda sobre esse assunto ?

Acho que por fora de todos estes “ismos” que carregamos conosco, temos em mente a idéia de que libertação animal e humana andam lado a lado, ponto. O cara pode ser vegetariano ou até mesmo vegan desde nascença; se ele não liga pro fato de que travestis, gays, negros, dentre muitos outros grupos estão morrendo em todos os cantos do mundo, vítimas de ataques nazistas, porque ele simplesmente não faz parte disso, só o que rola é uma inversão de papéis; trocam-se os “ismos”. Você respeita os animais, mas não conseguem respeitar os gays, as travestis, os negros? Isso não parece lá ter alguma lógica, não acha?

( VE—NE ) – Bom infelizmente eu teria milhares de perguntas mas vou terminando por aqui e gostaria de agradecer e muito as respostas e desejar toda a sorte do mundo para vocês de terminar com uma última questão : Quais são os planos da banda para o futuro ? E para o presente ?

É verdade, os assuntos rendem! Estamos finalizando dois materiais, um split cd com a banda de fastcore russa The Balls of Justice e um 7” com o projeto de surf music americana Mammoth Torta. Temos muita vontade de fazer um role pela America Latina e Europa algum dia.

( VE—NE ) – Considerações finais , fiquem a vontade para divulgação de trabalhos , projetos e o que mais quiserem dizer o espaço é de vocês :

Obrigado pela entrevista e pelo espaço, vamos sempre apoiar idéias como a do Velha Escola – Nova Escola. Gostaríamos de agradecer as pessoas que perderam tempo, chegaram até aqui e absorveram algo de útil para suas vidas. Enfim, pra quem quiser, trocar uma idéia, enviar sugestões/críticas, só entrar em contato conosco.

E-mail: nerdsattack@hotmail.com

Fotolog: www.fotolog.net/nerdsattack

Myspace: www.myspace.com/nerdsattackfast

Orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=16361946

( VE—NE ) – Obrigado a todos .

Que isso, nós que agradecemos e desculpa pela demora, somos enrolados, nos enfiamos em várias coisas e nunca damos conta de terminar tudo, quem sabe um dia.

Nerds Attack ! Ao vivo / Nerds Attack ! Live :



Um comentário:

  1. Show de bola a entrevista Ivan; tem de haver mais informações desta forma (entrevistas) neste teu trampo mano, já que os zines hoje em dia estão praticamente extintos. Realmente, parecia que eu estava com um zine em mãos lendo esta entrevista. Parabéns!!
    Grande abraço meu camarada.
    - AleX Soares

    ResponderExcluir

Comentários x Comments